A falar de beleza, glamour e estilo - Uma tarde com Sandrina Francisco.

Por Chiara Pussetti e Isabel Pires


Sandrina Francisco começou o seu percurso profissional com a licenciatura em Relações Internacionais no ISCSP/UTL, mas o apelo da moda foi mais forte.  Com uma pós-graduação em Consultoria de Imagem pelo ISLA, um curso de Marketing de Serviços e Produtos de Luxo na Universidade Católica de Lisboa e uma pós graduação em Tendências da Faculdade de letras, atualmente é uma mulher de mil ofícios: empresária, produtora de moda, stylist, apresentadora de televisão, consultora de moda e de imagem. É diretora da Fashion Studio

www.fashionstudiopt.com


Na televisão conhecemo-la pelo programa Moda Portugal (RTP internacional e África) e pela rubrica de moda e imagem “Espelho Meu” na RTP1. Na Sport Tv+ é responsável pela imagem dos pivots de informação, cargo que também exerceu na BolaTV.

Formadora em Portugal (docente convidada do ISLA), em Angola e no Brasil, é também consultora várias empresas e clínicas (Grupo Jerónimo Martins, Grupo L‘Oréal, Louis Vuitton, Burberry, Grupo Brodheim, Century 21, Mac Donalds, Clinica Em forma, Amo-te Corpo, entre outras empresas)

Entrevistamos a Sandrina no seu novo espaço, inaugurado nessa mesma semana. Por entre sofás vintage e obras de arte, percorremos uma série de temas e conceitos que analisamos no EXCEL. Partimos do conceito de beleza atual, mas também “ideal”, passamos pela consultoria de imagem e luxo – duas das grandes áreas da Sandrina – e terminamos na moda.

É sobe a alçada da “moda” que pensamos nas mulheres. Enquanto modelos a que pressões sociais estão sujeitas? Que tipo de intervenções fazem?  A sua pele, a sua cor, importa?



O ideal de beleza atual



Como define “beleza”?

Hoje mais do que nunca há muitos conceitos de beleza. Antigamente havia aquele padrão de beleza, a mulher tinha de ter aquelas medidas. Isso está a mudar. Temos tantas influências, de tantos sítios, que acabamos por achar bonito o que não temos em Portugal. Em moda ainda estamos muito padronizados: altos, magros, com poucas curvas. A imprensa tem mudado, vai buscar pessoas comuns com outras características como vitiligo, doenças raras… para as pessoas se identificarem mais. Beleza importa como atitude, autoconfiança. O que está certo depende do estilo e do gosto. Beleza para mim pode não ser o mesmo que para ti.


O modelo europeu ainda é valorizado?

Sim, um pouco. Fomos bombardeadas com a beleza do leste europeu. São todas lindas, altas, loiras e de olhos azuis.


Como é a mulher ideal portuguesa?

É morena, de olhos castanhos, cabelos castanhos e não muito alta. Refiro por exemplo Cláudia Vieira, Catarina Furtado… que não são como as de leste ou as brasileiras.

Há uma nova vaga de beleza: as Kardashians, a Anitta. As mulheres agora querem muito bumbum, coisa que não acontecia há dez anos atrás.


A televisão ainda tem um padrão de beleza? Há um padrão?

Há diversidade, mas ainda procuram pessoas bonitas, simétricas, que comuniquem bem. Tem muitos apresentadores que comunicam bem.


A Oceana Basílio representa a mulher portuguesa?

A Oceana não tem nada a ver com a mulher portuguesa. Por vezes as vezes a pessoa que tu usas não reflete o que o teu cliente final quer refletir. Tem de coincidir.


A Gisele Bündchen representa a mulher brasileira?

Representa mais a brasileira do Sul, não o Brasil em si! Nem o Brasil acha que a Gisele representa o Brasil. A Anitta sim. A Raica Oliveira.


A classe social condiciona o tipo de opções estéticas que fazes?

Sim, tem a ver com o que vemos e ouvimos, o nosso grupo de amigos. Pessoas “do bairro” e com menos capacidade financeira ouvem um tipo de que pode ser muito diferente das elites.

O funk vem das favelas, como a Anitta, kuduro, etc. Mostram rabos avantajados. Muitas miúdas do bairro que ouvem essa música vão seguir essa tendência, com idas ao ginásio, obsessão pela parte de baixo do corpo. A classe mais alta continua a gostar daquela mulher alta, magra, com poucas formas. Quando pensamos numa mulher no poder, não pensamos numa mulher cheia de curvas. Se ela o é, ela vai tentar esconder isso e passar o ar mais masculino possível.

Como imaginamos uma executiva de Nova York? Alta, magra, cabelo liso, associamos linhas retas ao lado masculino, roupa escura ou vermelho/bordeaux/roxo -  que são cores de poder -  e dourados. A “boazuda” é toda cheia de curvas e de cabelos com volume ou caracóis.

 

Os anos da crise económica diminuíram a vontade de beleza e de estilo?

A crise afetou muito gente que deixou de ter dinheiro mas que teve a necessidade de mostrar que manteve o dinheiro. Há uma necessidade de comprar para demonstrar o estatuto.


E o investimento estético?

A mulher continua a cuidar-se. É na época de guerra que a mulher é mais glamorosa, nos anos 40, durante a Segunda Guerra Mundial…

Há a necessidade de demonstrar que estás bem, até como ferramenta psicológica para te aguentares. Se estás em crise, cuidar de ti é uma forma de equilíbrio. Se te queres manter à tona, tens de cuidar de ti.

 

A aparência importa?

A imagem é muito importante. Com as mesmas habilitações, escolho quem tiver uma melhor imagem.


O que é uma boa imagem?

A nível profissional é a que reflete melhor o ADN da minha empresa.

No que toca à imagem, existe a pressão da juventude, o medo de envelhecer, a pressão do trabalho, olhares para o espelho e já não te veres como eras. Há o medo de que o marido de troque por uma mulher mais nova, medo de seres rejeitada, substituída. Os homens ficam charmosos grisalhos, as mulheres envelhecem e precisam de mais para continuarem bonitas. Há mais pressão nesse sentido sobre as mulheres.


Há uma obrigação e responsabilização da beleza?

Há. É uma sociedade onde, se não tiveres cuidado, és rejeitada pelo grupo. Quando alguém não se cuida, não quer saber dela podemos questionar:  se não se cuida, vai cuidar do trabalho? Da família? Da casa?

Não é viver obcecada, mas estou a fazer o melhor que posso: tomares banho todos os dias, alimentares-te bem, descansares…pores um pouco de maquilhagem... mostrares que te preocupas, arranjares as unhas, fazeres a depilação. A pessoa que se desmazela pode perder a credibilidade.


O que quer ou não quer uma mulher?

As mulheres têm medo de envelhecer. Querem beleza e juventude eterna, mas acima de tudo sentirem-se bem na sua pele. Daí o recurso à estética, cremes e dietas loucas .

Há mulheres mais jovens em todo o lado, com outras habilitações, e formas de comunicar diferente. Os homens continuam a gostar de mulheres com curvas. Nós, mulheres, queremos ser magras como as da passerelle.

 

As mulheres quando fazem retoques têm vergonha de dizer?

Sim, têm vergonha de parecerem superficiais e que digam que a beleza delas não é natural. Ainda querem ser muito naturais. Tem a ver com a nossa cultura. A mulher brasileira, por exemplo, sempre teve mais o culto do corpo do que nós. Nós vivemos numa sociedade cristã onde uma mulher não pode ser demasiado vaidosa. A vaidade é um pecado e ainda temos isto muito enraizado em nós.



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Consultoria de Imagem





Quem recorre à consultoria de imagem?

Todo o tipo de pessoas. Por exemplo: uma diretora de uma empresa de móveis, que enquanto diretora achavam que era se vestia como as funcionária de armazém; uma mulher que emagreceu imenso; uma outra que tinha acabado a faculdade e o mestrado (ia trabalhar para um banco) mas tinha ar de 14 anos e queria parecer mais velha. Varia muito.

 

Em relação ao género?

São muito mais mulheres que procuram a consultoria de Imagem, inseguras com a sua imagem, com medo de arriscar e de qualquer idade. Verbalizam: “eu não me sei vestir, tenho medo de errar, nunca liguei a roupa”.

O que querem transmitir?

Um ar mais moda e mais elegante. Querem ter uma imagem mais refinada, que lhes digam que está bem vestida. Fomos educadas (mas isto está a mudar) que o rico veste à rico e o pobre veste à pobre mas isso hoje não faz qualquer sentido. No entanto quem entra numa determinada tribo tem de usar um código de vestuário daquela tribo.

Que pessoas a procuram?

Só portugueses, nunca estrangeiros até agora.

Há padrões de nacionalidade? Percebem de onde são pela maneira de vestir?

Sim, brasileiras realçam a parte de baixo com roupa muito justa, as portuguesas escondem mais. As de leste são muito mais discretas no dia a dia. Mais do que com a roupa tem a ver com a forma de estar, o comportamento.

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Luxo

 

Quem procura marcas de luxo?

Antes eram as elites. Agora as marcas perceberam que podem chegar a todos. Há uma microtendência, o taste of luxury, o masstige. O logotipo faz-te sentir bem, “porque eu mereço”.

Quem compra luxo?

Tens o bling-bling e o blanc-blanc. O bling-bling tem marcas estampadas, a pessoa tem necessidade de mostrar. São os novos ricos, a população emergente (BRICS), como afirmação cultural e de pertença ao grupo. O blanc-blanc é para quem conhece o mercado e reconhece a peça, mas não precisa de dizer. São os consumidores europeus, japoneses e americanos sobretudo. Os portugueses são muito bling-bling, é a maneira como envias outputs para a sociedade. Depende do meio em que andas.


 

Tipos de Modelos




Quais são as modelos que mais te solicitam?

Mulheres e homens que cada vez mais tenham bom ar, cuidado, magros, mas não em demasiado. Querem um ar muito saudável, bonitos, dentes perfeitos e uma boa atitude. Nas mulheres procuram feições pequenas; olhos grandes; lábios com volume e nariz pequeno.


Há alguns traços diferentes pedidos?

Sobrancelhas grossas e pele muito branquinha. Ser muito bronzeado hoje em moda não funciona. Gostam de mistura: indiano com chinês, negro com qualquer outra coisa… acham muita piada ao exótico. Cabelos Afro, quanto maior melhor; antigamente não queriam.

Há diferentes segmentos: moda de passerelle e moda de publicidade. Há públicos alvo completamente diferentes: na publicidade querem pessoas mais comuns, com quem o publico se identifique. Procuram mulheres bonitas, mas não inatingíveis, senão ninguém se identifica com elas.


Há procura de modelos africanas para publicidade?

Sim, para passar uma imagem mais cool. É tendência mundial, uma mistura que enfatiza os traços exóticos em vez de os apagarem, mas se forem muito escuras não querem.


Tens modelos africanas? Há alguma tentativa de ocidentalização?

Sim, mas a capulana e o kuduro estão na moda. África está na moda. Gostam de africanas cor de mel, muito claras, nariz fino ou olhos claros. Gostam da mistura nos traços.


Há a tentativa por parte das agências em tentar mudar alguns desses traços? Nariz, etc.?

Sim, naquelas agências de moda internacionais mais exigentes. O circuito é muito fechado, o internacional… a competição é muito grande. Também não podem ser fotocopias uma das outras, forçarem as pessoas a terem um determinado padrão. Há muitas agências formatadas para que os modelos não tenham mais do que um peso x.


Algum caso de uma modelo que gostasse de fazer uma correção nela própria?

Não há nenhuma que não gostasse de fazer qualquer coisa, modelo ou mulher .--A mulher vai ter sempre um ideal de beleza diferente daquilo que ela é.


Fazem estética? Cirurgia? Dermatologia estética?

Dermatologia estética sim, tratam da pele (acne, etc.) e muito ginásio, cuidado com a alimentação e bebem água. Cirurgia estética só ao peito, o resto não.




Modelos e cor da pele





Que intervenção dermatológica as mulheres procuram mais?

Apagar os sinais de envelhecimento. O peito grande já esteve mais em voga do que agora, muita gente que já meteu e agora está a retirar. Há mais gente a trabalhar rabo e menos peito, é a influencia americana.

O bronze já não está tao na moda. Agora é trend ter uma pele saudável. Preferem bronzeado com jato a apanhar sol. Há outra consciência da saúde que se foi introduzindo na sociedade. As pessoas mais branquinhas têm um ar mais saudável. Significa que se preocupam consigo. Antigamente as brancas tinham vergonha de serem muito brancas, hoje têm orgulho.

 

As modelos não gostam de serem tão escuras?

Nunca vi esse problema. As africanas têm muito orgulho das raízes delas, da cultura delas. Elas gostam de ir para a praia, dizem “estou muito branca” e querem ser mais escuras. Os cantores africanos que vem gravar cá também não querem modelos muito escuras. ---Tenho miúdas da Guiné com grande corpo, mas são muito escuras. São boas para desfiles, mas para campanhas publicitárias são muito difíceis.

As marcas querem cada vez mais modelos asiáticos porque o mercado de luxo é subsidiado pelos consumidores asiáticos. Aqui vês porque as grandes campanhas de luxo usam asiáticos.

 

Como querem a pele ?

Muito branquinha. Os ruivos estão na moda. São 2 % da população mundial, é a procura pelo diferente. Antigamente o ideal de beleza era a pintura, depois as divas do cinema, anos 1980 as top models, a Kate Moss… agora tem uma multiculturalidade de coisas que acham bonitas.


De onde veio essa multiculturalidade?

Da forma como comunicamos. Vais buscar inspiração em todos os lados. A loira branquinha de olhos azuis vem desde a altura que o povo copiava a nobreza. A elite continuava a ser Hollywood, Greta Garbo, Marilyn Monroe, etc. Hoje já não há elite nem há povo. Hoje há uma mistura tao grande, fomentada pela internet, pelas redes sociais e pela televisão.

 

 

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