Limitless? Imaginários, Consumos e Desafios no Aprimoramento Cognitivo

No dia 15 de março de 2019 teve presença no Instituto de Ciências Socias em Lisboa, a Conferência do projeto EXCEL: The Pursuit of Excellence. Biotechnologies, enhancement and body capital in Portugal, (PTDC/SOC-ANT/30572/2017), intitulada “Limitless? Imaginários, Consumos e Desafios no Aprimoramento Cognitivo”, onde perante um auditório quase repleto e de uma população muito heterogénea se apresentaram prospectivas de pesquisa e se discutiram práticas e dilemas ligados ao consumo de substancias para melhorar a memória e impulsiona a criatividade e a produtividade. Do emprego de fármacos com finalidade terapêutica, ao uso de produtos naturais, nootrópicos, ou até de substâncias psicodélicas foram apresentadas questões extremamente atuais e relevantes na sociedade contemporânea, quer para o meio académico quer para a sociedade em geral.

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O primeiro painel, moderado por Cristiana Bastos, deu início aos trabalhos apresentando os principais desafios e dilemas do melhoramento cognitivo. Chiara Pussetti (ICS-ULisboa, Coordenadora do Projecto EXCEL) abriu a discussão, expondo os temas principais do projeto EXCEL e as suas tensões sociais, num quadro ligado a formas contemporâneas de biopolítica, propondo uma leitura alternativa do conceito de biocapital e debatendo as novas bioeconomias segmentadas ou de nicho. A apresentação da Chiara Pussetti evidenciou as principais questões bioéticas ligada ao enhancement humano, apresentando uma perspectiva antropo-poietica e levantando questões e dilemas que seriam amplamente discutidos nas apresentações seguintes. Miguel Barbosa (FM-ULisboa, ICS-ULisboa) pronunciou-se sobre os consumos e desejos de potenciamento cognitivo no contexto académico, completando este tema com a apresentação subsequente de Miguel Miranda (FM-ULisboa), que explanou as conclusões de um estudo realizado sobre o uso de doping cognitivo no contexto da Prova Nacional de Seriação pelos alunos do Curso de Medicina. Seguidamente Maria Concetta lo Bosco (ICS-ULisboa), sob a égide de “fazer e desfazer a conditio humana”, partilhou a sua experiência de investigação sobre aprimoramento cognitivo num contexto muito particular de crianças com transtornos do espectro autista. De forma fulgente, Giorgio Gristina (ICS-ULisboa) encerrou o painel com uma proposta desafiadora de pesquisa, reportando os primeiros dados etnográficos sobre o crescente consumo em Portugal de substâncias psicodélicas para melhorar a criatividade, aprendizagem, memória e discutindo como LSD compartilha uma estrutura similar à serotonina, atuando intensamente nos receptores serotonínicos.

Para encerrar a manhã seguiu-se uma mesa redonda de excelência, onde sob a alçada do passado, presente e futuro das tecnologias de aprimoramento humano se pode assistir a uma cativante exposição e discussão entre os Professores Alexandre Ribeiro (FM- ULisboa), José Luís Garcia (ICS-ULisboa), Fernando Cascais (FCSH-UNL), Hélder Coelho (FC- ULisboa) e Fernando Araújo (FD- ULisboa).

Já da parte da tarde seguiu-se com o segundo painel proposto, relativo a Medicamentos e Consumos de Performance, uma perspectiva sociológica, com apresentação de resultados de investigação, moderada por Miguel Barbosa (FM-ULisboa, ICS-ULisboa). Coube a Noémia Lopes (IUEM, CIES/ISCTE-IUL) introduzir o tema, revelando práticas sociais, contextos e literacia no âmbito dos medicamentos e suplementos alimentares que são consumidos em circunstância de aumento de performance. Completando a intervenção anterior, Hélder Raposo (ESTSL, CIES/ISCTE-IUL) expôs a percepção de risco nos consumos de performance dentro das culturas juvenis e de que formam se realiza a gestão do desempenho. Telmo Clamote (CIES/ISCTE-IUL), em continuidade, apresentou como o cinema serve de fonte de informação e de inspiração nos consumos de performance. Já em situação de realidade, Carla Rodrigues (AISSR, CIES/ISCTE-IUL) partilhou a sua experiência de investigação em campo sob consumos de performance pessoal, em Maputo, Moçambique.

Para encerrar uma conferência de excelência, brindou-nos com a sua presença o ilustre cientista Alexandre Quintanilha (i3s, ICBAS, UPorto e AR), que de uma forma brilhante desafiou o público a pensar aos limites, aos riscos, mas especialmente às promessas das neurociências, considerando tanto os fins terapêuticos como os de aumento das potencialidades humanas. Tocando temas como a igualdade no acesso à tecnologia, a liberdade de autoconstrução, a identidade pessoal, a autonomia e capacitação, Quintanilha afirmou a necessidade de criar um consórcio democrático para promover uma investigação e inovação responsável no melhoramento cognitivo, fechando este dia intenso e inspirador da melhor forma possível.